Você vai me abandonar e eu nada
posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte
entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os
dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após
dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado,
depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá
nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou
uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue seu para
manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu
possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você
esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma
fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.”
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